tudo o que o ser humano quer
é um deus provisório
uma boca latente de língua grossa
argamassa nos buracos do peito
& aguarrás nos dentes
um asteroide queimando os lábios
fibras no café da manhã
duas tiras de micropore
na sobrancelha esquerda
& muita máscara
máscara para limpar poros
para arrancar cravos
desmanchar a epiderme
derreter a derme
e ferir a hipoderme
tudo o que o ser humano quer
é expor a brancura polida dos ossos de alguém
enosar as tripas no para-choque do foguete
e escrever no vidro de um santana:
"presente de deus"
antes de explodir a si mesmo.
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ruínaseu tenho ruínas no peito
pois é um peito ensanguentado
é um cavalo na corda bamba
um mendigo solitário
enquanto você vai embora
minhas ruínas sangram
sangram os gozos da minha cama
& eu acendo um cigarro
& olho para tua íris
& vejo o reflexo do meu esqueleto
a minha barba rala
minhas rugas
e por fim
vejo que não existo mais
.
olho para teu rosto
& a tristeza escorre negra,
a lágrima lava células mortas
& você diz um adeus fodido.
um adeus tão fino
tão fino
tão fino
tão fino
que vamos sumindo
eu
e
você
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do mundo tenebrosoo resumo de um mundo tenebroso
& seus pedaços
cheios de colapsos internos
& escuridões cavernais
é o coração
um cais, um céu e um mar
um corpo dentro de um dilúvio
ou um dilúvio dentro do corpo
todas as zonas erógenas esquecidas
& calaram os velcros dos sepulcros
& rasgaram as telas pintadas
com mãos & lágrimas
vinde a mim
as criancinhas
pois delas é o inferno do céu
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Felipe Pauluk é um curitibano residente em Londrina. Jogou na loteria da vida e, numa quina, tirou o menor prêmio: a literatura. Lançou seu primeiro livro, 'Meu Tempo de Carne e Osso', em 2011. 'Hit The Road, Jack', romance, em 2012. Em 2015, foi lançado 'Town', último romance do autor. 'Comida di butequim' e 'Tórax de São Sebastião' foram seu dois livros de poemas publicados em 2016. Em 2017, 'Manual Prático de Perna Mecânica para Cantores' foi lançado pela BAR EDITORA. Felipe também é roteirista.
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