Todo pó respirado contém oitenta genealogias.
Debaixo do osso, nervos adormecem.
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SextaEu vi o mundo acabar um pouquinho,
mas tive de ir comprar frutas no supermercado,
era sexta,
eu vi.
Acabava sem fogo ou água,
penso nos tantos tolos
torcendo, agora tristes,
pobres, desde sempre.
Há fila
e as moças do caixa, todas elas,
agora são uniformizadas com laços e coques
nos cabelos.
Penso no que será de meus cabelos
e de meus ossos.
Foi pelo chão,
que se abriu, mas era sexta,
e a cada dia há mais gente
que trabalha três turnos.
Três são os restos do mundo,
guardemos em relicários:
dois dedos de terra,
rasgos de tecidos,
a memória dos dentes.
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Quadrinha da imunidade presidencialEu não morro de facada,
gripezinha não me pega.
Não tem nada a ver com classe,
é histórico de atleta.
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Lorena Grisi é escritora e vive em Salvador (BA). Tem formação em Letras pela Universidade Federal da Bahia e é revisora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano. Em 2019, foi selecionada para participar do projeto "Grafias eletrônicas", da Fundação Cultural do Estado da Bahia e do Instituto de Radiodifusão Educadora da Bahia, cujo vídeo está disponível em https://bit.ly/3aT8Iti. Tem poemas publicados na coletânea “Hilstianas vol. 1”, (Editora Patuá/Instituto Hilda Hilst), “Antologia Ruínas” (Editora Patuá) e “Terra, fogo, água, ar: coletânea lírica” (Edufba). Outras publicações que contêm sua participação estão no prelo, a serem lançadas em 2020: coletânea “Mulherio das Letras” (Editora In-Finita) e Revista Torquato. Foi o quarto lugar do Prêmio Castro Alves de Literatura 2020, da Academia Teixerense de Letras (BA), recebendo menção honrosa.
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