Pular para o conteúdo principal

Jennifer Trajano | cinco poemas


lua não amanhece

sereno envelhece
a terra de mim
estandarte há aqui
e não deveria

é de branco que fazia
genocídio de xamã
bíblicos versículos
gerando ira em tupã

girando mira
na fé de si
tira tirania
que atira sangue

vermelha o verde
da bandeira
(esse símbolo
que nem é daqui)

*********

sussurro


a mata me clama
quando te clamo

vento queima no
vaga-lume que sou

quando
suo em ti

a mata me chama
quando te chamo

ilya descobre nela
e faísca em mim

**********

jazida


folhas secas minam
as presas dos felinos
nas caças florestais

terra, fome, ais
mira que não some
das favelas sociais

**********

fuga


gorila batendo
em peito de diamante

troca a pele
corta o instante

repele o pó de
vidro distante

porque o caco de dentro
perdeu-se nos dedos

**********

cicatriz


uma escrava chora no tronco:
chibatada utópica do regresso

grosso, morto, oco, tão eco
como o grito em alvoroço

do tigre que não cessa
no fundo do poço

**********

Engenheira de ilusões, natural de João Pessoa - PB, professora de língua portuguesa e revisora textual, Jennifer Trajano é autora de "Latíbulos" (Editora Escaleras, 2019).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Marina Magalhães | três poemas

Prelúdios do afogamento. Para violino. Por fim, quando deixarás de alimentar os teus naufrágios? Me perguntaste sem saber que tripulação alguma deseja a própria morte. Nada podem fazer se a carcaça, já tão cheia de buracos, continua       sempre            a afundar.                   A marcha                   fúnebre faz                   glub.                   glub.                   g                   l                   u                   b. *********** Amor de prateleira Os dias vêm sobrando, transbordadas as horas pelo vidro. Tempo deixado em conserva é salgado demais p...

Francielle Villaça | três poemas

Alongamento A dor nos encurrala para o presente ************ Exercitar o conformismo mesmo que por um instante, ou melhor: ainda que por um instante sobretudo por mais um instante. Não, não atenuaremos o confronto: o conformismo nos atenta ao instante pouco a pouco até que os ossos estalem. ************ O freio de emergência habita alguma extremidade Tudo que é radical é, imanentemente, radical demais. Porque não há raiz sem mergulho. Porque ir até a raiz exige destreza, perícia, coragem. Raiz: palavra aguda. Palavra que destrona qualquer ilusão de fincar vida na superfície. Enraizar é um trabalho árduo. Mas, que em sua essência aguda, não vê outra possibilidade se não fincar. Fincar. Fincar em solo firme, fértil, mas nunca estável. Encurralados, a saída está na profundidade do nosso mergulho. ************* Francielle Villaça tem 20 anos, nasceu e mora em Vila Velha, no Espírito Santo. Atualmente cursa Letras - Português, na Universidade Federal do Espírito ...

Marcos Samuel Costa | seis poemas

Chamas  Não chamas o deus, ser não físico, sem matéria, sem húmus, amo, não queimará nenhuma lembrança, a força que fará não tem água, não apaga, ele próprio não queima. O pesadelo em teu quarto, gás vazado, fósforo acesso, estalos, os dedos se estalaram, o crime de tenebrosa vertigem, morra, a casa fica fora da área de perigo, habitantes ausentes na festa, habitantes fugitivos da guerra sem deus, atravessam o mar num navio em chamas. Não habitará nenhuma casa humana, na criação da terra o deus fez terra e mar, oceano é palavra moderna, queimou as paredes, vejam – a intimidade do homem exposta. O homem ficou sem paredes, o quarto sem segredos, queimou, junto das páginas dum livro antigo de Machado, junto a cartas, cigarros febris, famintas chamas, chamas chamas o deus, ele não é como tu de carne, não queima, não morre e vira mármore frio, terra e pó, cinzas da tarde quente, o paraíso ficou na parte obscura dos olhos, ficou na parte seca dos braços. ************ É no meio ...