virtuosa
reclusa, curvada sobre si
mesma como a uma
harpa
puxa cordas-tempo
que vibram aço nylon
e sangue e dúvida
pirateando o sentir
navegando o som talvez
tímida mas
sem pausa:
há somente o instante,
janela para o outro,
e seu corpo, a
jogar-se
tussígeno
um dia, trombetas soarão
anunciando que é chegado o fim
e que não há mais solidão
ou pelo menos que há algo novo
para nos infernizar
até lá, é esse fardo
- grito sem dono, carro, cubos de luz
altos pessoas trancadas
olho que vê sem ler
nada mão cheia sem ter
palma
morte na capital
no interior não sei te dizer
quando penso me engasgo
prefiro a violência
que não olho se olho
não guardo
olha aí já quero tossir
- o mundo todo
entalado
deus um dia engole
esse nó que sou
em sua garganta divinal
até lá, é mais do mesmo
esse fardo
toalha embaixo do corpo que é para não molhar o assento do carro
corta o ar um segredo
que carrega em si urgência.
mas cuidado.
o momento é de silêncio.
cada pessoa um molusco
em sua concha de memória e medo,
enrolados como bebês em toalhas,
fios salgados de dias
que crescem pela cabeça
grudados na pele.
tão gulosa é a pele
sente tudo e não diz nada.
você se remove do instante
como uma palavra que foge à cabeça
seu corpo um estranho obelisco
perdido na areia fria,
só uma tarde se passou
e já esquecemos de onde viemos,
você nega aquele dia
com a indiferença de um animal
que nada deve a homens de razão
mas da sua moleira os fios longos
traem cada hora,
minuto segundo
retratos verticais
do que você nem pro mar
quer contar
não precisa falar nada, as ondas rugem
os olhos da tarde semicerrados
em repreensão
o mar responde quem não pergunta
ele diz que já sabe
estava lá,
escondido,
estava lá
quando aconteceu.
Beatriz Férre é designer e universitária da área de computação, nascida e criada na cidade do Recife. Aos 21 anos, além dos estudos acadêmicos e atuação com design de produtos, Beatriz investe em suas invenções artísticas, de fotografias e desenhos a poemas e contos, na tentativa de manter a criativa Beatriz de 7 anos sempre viva. Mais dessas invenções podem ser encontradas no Instagram @gausguin e no seu site, urumuru.blogspot.com
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